No comício do BE em Quarteira, o membro da comissão concelhia de Loulé, Joaquim Mealha produziu uma intervenção que interessa conhecer, pela importância que as próximas eleições autárquicas detêm no contexto de austeridade do país e em particular na perspetiva de uma derrota da direita no município de Loulé:
No Algarve onde a economia ao longo de décadas, tem estado quase exclusivamente focalizada no turismo e em atividades conexas como o imobiliário e a construção - erradamente, mas é a realidade - o tempo de lazer de muitos dos que aqui estão, é tempo de trabalho e de sustento para muitos outros, reduzidos de há muito à sazonalidade, antes de 6 meses, e agora, em grande número, à precariedade de 2 e de 3 meses de trabalho. Aos muitos que nos visitam, temos que reconhecer e agradecer o vosso esforço e nalguns casos sacrifício, pelo gozo merecido de alguns dias de férias na nossa região. Um direito que gradualmente nos vão objetivamente retirando. Vocês fazem mexer a economia real e com ela algum emprego e rendimento para quem consegue encontrar trabalho, embora muitas vezes, precário, abaixo do ordenado mínimo nacional. Esta é a nossa realidade.Estamos num tempo em que é preciso refletir e agir. E para refletir convosco, quero lembrar alguém que no Bloco muito estimámos e reconhecemos como pessoa, mas que continuamos a estimar e reconhecer pelo pensamento e experiência na ação que nos legou - Miguel Portas. O Miguel esteve aqui ao lado, em Loulé, no dia 9 de Janeiro de 2012, há pouco mais de ano e meio, tinha este governo 6 meses. Disse-nos então o Miguel: "este modelo, o modelo da troika e do governo que se propôs ir além da troika, vai matar tudo o que é emprego...é sobre um cemitério de empresas e de desemprego que a economia depois de ter ido ao fundo, um dia começará a renascer...uma economia exportadora, com salários à chinesa e assente em grandes e sólidos grupos económicos...". Esta é a "fezada" dizia o Miguel.Este é o objetivo confirmado, podemos nós hoje afirmar, pelo conjunto de medidas postas em prática e anunciadas. Agora já é mais percetível para muitos, o que não foi há dois anos e meio. Estamos a recuar em poucos anos, no que ao longo de dezenas e centenas de anos foi sendo conseguido pelo esforço e pela vida de muitos, em defesa da dignidade das pessoas e da afirmação dos direitos das pessoas e dos valores da humanidade. Mas, porque esta crise económica que se reflete de forma dramática nas nossas vidas, assenta muito numa enorme subversão de valores: os do individualismo e da ganância, acima da cooperação e da solidariedade, os do dinheiro acima das vidas das pessoas...Permitam-me então, mais uma citação. Recuemos ao século XVII, a padre António Vieira e ao seu célebre sermão aos peixes, pregado a 13 de Junho de 1654 em São Luís do Maranhão no Brasil. Dizia padre António Vieira: " A primeira cousa que me desedifica (escandaliza) peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande" e cita ele, Santo Agostinho, século IV: "Os homens com suas más e perversas cobiças, vem a ser como os peixes, que se comem uns aos outros".Passaram séculos, e apesar do percurso lento, tem-se procurado vir a regular esta selvajaria. Eis agora, que estamos em retrocesso civilizacional galopante. Chegados aqui para onde vamos? Essa é a encruzilhada em que nos encontramos. Vamos para a salvação nacional, assente numa união nacional, para que os peixes grandes (os do BPN, de outros bancos, e outros de que nem conhecemos o rosto) continuem a comer os pequenos e estes docilmente aceitem ser comidos? Ou para uma solução de unidade dos trabalhadores, dos empresários implicados na economia real, aquela que produz e transaciona bens e serviços úteis e necessários à vida de todos nós, assente nos direitos humanos, na solidariedade, na sustentabilidade, na democracia participada, nos direitos à qualidade de vida a que todos e todas aspiram. É desta encruzilhada que temos que sair.As próximas eleições autárquicas são a próxima e eventualmente das últimas oportunidades que teremos para fazer reverter este caminho. Nestas eleições, como em nenhumas outras após o 25 de Abril, é preciso vencer a mentira, o medo, a chantagem. É preciso não voltar a cair na armadilha de quem promete uma coisa para fazer o seu contrário. O momento grave que vivemos, no concelho e no país, com a destruição da atividade económica, em particular a que é desenvolvida pelas pequenas e médias empresas, com a taxa real de desemprego a ultrapassar os 20%, com a efetiva redução dos salários de quem ainda trabalha, com a destruição dos serviços públicos, com o saque aos descontos para a Segurança Social para pagar dívida a agiotas, comprometendo a muito curto prazo o sistema de reformas, obriga a que coloquemos, antes de tudo, a dignidade e o interesse das pessoas. Nunca as eleições locais foram tão importantes para os portugueses e para Portugal. Cada derrota local dos partidos do governo será um forte contributo para a inversão desta política destruidora. Cada vitória dos partidos do governo será entendida como um aplauso, o sinal de apoio às medidas que estão a destruir a vida dos portugueses e Portugal!As candidaturas do BE no concelho de Loulé têm, neste contexto, como prioridades:- Derrotar a candidatura do PSD à Câmara Municipal de Loulé, contribuindo assim para uma derrota nacional desta política e deste governo;- Propor um novo modelo de gestão municipal e nas freguesias que valorize as pessoas, que potencie os seus saberes, que dê prioridade à criação de emprego sustentado nos recursos existentes, nas pequenas e médias empresas, que assuma como uma prioridade a qualidade de vida para todos.Espero que um pouco por todos os municípios e freguesias não desviemos a atenção do essencial. Derrotar esta política local e nacional, pela construção de uma sociedade que assente na justiça, na cooperação e na sustentabilidade no uso dos recursos.
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