Declaração sobre a Elaboração do Plano de Urbanização de Caliços-Esteval
A Câmara Municipal de Loulé deliberou determinar a elaboração de um Plano de Urbanização, numa área de 355 hectares, entre as localidades de Caliços-Esteval (PUCE), tendo publicado um aviso em diário da república de 1 de setembro passado. Nesse aviso é ainda determinado a elaboração da Avaliação Estratégica Ambiental, são definidos os termos de referência, aprovada a minuta de contrato a celebrar com o grupo IKEA, entre outros pontos.
Relativamente a esta questão o Bloco de Esquerda tem a manifestar o seguinte:
- Ao contrário do que se refere no Aviso, a deliberação de mandar elaborar o Plano de Urbanização Caliços-Esteval não corresponde a qualquer opção estratégica de planeamento e ordenamento do território, pois aparece desgarrada de qualquer linha de orientação política ou económica para o concelho de Loulé, numa altura em que decorrem ainda os trabalhos preparatórios da revisão do Plano Director Municipal.
- Ao contrário do que se afirma no mesmo aviso, não se respeita o parecer emitido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, de 17 de maio passado, no qual se defendia uma estratégia sustentável baseada numa análise segura dos custos e benefícios de qualquer proposta de localização empresarial, bem como a reponderação de áreas a urbanizar, no âmbito da revisão do PDM, em particular no Plano de Urbanização da cidade de Loulé, com vista a futuros usos empresariais.
- Os argumentos aduzidos pela Câmara Municipal, para justificar a elaboração extemporânea deste plano, são muito frágeis, apesar de se esconderem por detrás de propostas de planeamento integrado, relativo aos instrumentos de planeamento a decorrer na área, ou de articulação económica entre os investimentos previstos.
- Na verdade, o que se esconde por detrás da deliberação de execução do PUCE é tão somente a tentativa de disponibilizar terrenos urbanizáveis, numa área que integra os interesses do Grupo Empresarial IKEA, o qual já tinha adquirido cerca de 40 hectares com vista a instalar um empreendimento comercial, com loja, centro comercial e retail park.
- Como o Bloco já denunciara em momentos anteriores, este plano é a prova da submissão do poder político ao poder económico, a demonstração da total ausência de soberania e de autonomia política do poder local, na garantia de estratégias de desenvolvimento sustentável para o concelho, do ponto de vista ecológico, social ou económico.
- O Bloco de Esquerda vem, assim, reafirmar as condições já apresentadas, em 19 de março deste ano, que devem constituir os critérios objectivos e subjectivos fundamentais, para a concretização de qualquer grande investimento no concelho de Loulé:
i) O respeito pelo planeamento do território e seu enquadramento com os instrumentos eficazes em vigor, designadamente através da revisão do PDM, o qual deve considerar a defesa de estratégias sustentáveis de desenvolvimento económico para o concelho. Deve respeitar ainda o Plano de Urbanização de Loulé, cujos objectivos apontam para o alargamento significativo do actual perímetro urbano, construção de infra-estruturas e equipamentos, que conduzam ao “reforço/melhoria das ligações de Loulé a novos pólos de desenvolvimento (parque das cidades) …”; a “Consolidação/expansão da área empresarial com o Aeródromo…” e também, potenciem a “Articulação com o futuro Aeródromo de Loulé”.
ii) A necessidade de estudo dos impactes ambientais que os grandes empreendimentos vão inevitavelmente provocar, com a alteração do uso do solo ao nível da RAN ou REN, impondo regras exigentes no âmbito do projecto, de modo a desafectar a área mínima estritamente necessária, com o mínimo de impermeabilização do solo.
iii) Ter em consideração o aumento substancial do tráfego rodoviário que irá ser gerado, obrigando necessariamente à criação de novas acessibilidades ou melhoramento das existentes que garantam a fluidez do trânsito.
iv) Analisar o volume dos investimentos anunciados, assim como o número dos postos de trabalho que irão ser criados, contrariando a precarização do trabalho.
v) Garantir o estabelecimento de protocolos com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, para que o recrutamento do pessoal seja efectuado preferencialmente a partir dos desempregados inscritos no Centro de Emprego de Loulé, privilegiando o emprego feminino, de jovens licenciados à procura do 1º emprego, e de pessoas portadoras de limitação.
vi) Estabelecimento de acordos de cooperação com o comércio local e com as micro, pequenas e médias empresas locais, criando condições para o escoamento de produtos ou prestação de serviços.
vii) Que a construção destes investimentos contribua para a recuperação de zonas industriais abandonadas ou degradadas, assim como para a regeneração de zonas já consolidadas e potencie a realização de projectos municipais estruturantes: aeródromo, ligação da rotunda Pereiras/Vale do Lobo e das 2 Sentinelas/rotunda da BP Quarteira.
viii) Que os projectos sejam elaborados tendo em conta a poupança de energia, a utilização de energias renováveis, a micro geração, a reciclagem e a redução da emissão de resíduos.
ix) Que contribua para a promoção do uso dos transportes públicos, especialmente entre os centros urbanos e a ligação ao transporte ferroviário.
x) Que o investimento privado patrocine a criação de respostas de responsabilidade social, nomeadamente a construção de creches e equipamentos de apoio à juventude, apoiando ainda as associações de solidariedade social no concelho.
xi) Que a efectivação do projecto contribua para aliviar a pressão urbanística que se verifica actualmente no litoral, favorecendo a articulação litoral/interior, criando condições para a fixação de pessoas e empresas a norte da EN 125.
- Sem a ponderação dos critérios acima enunciados, o Bloco de Esquerda considerará sempre que se está perante uma tentativa de impor a chantagem de interesses económicos atentatórios do desenvolvimento social e económico do concelho de Loulé.
20 setembro 2010
Comissão Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda
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